Este artigo apresenta uma síntese dos principais aspectos relativos à biologia, ecologia e conservação dos cactos (família Cactaceae), abordando desde a adaptação a ambientes áridos e semiáridos, a estrutura e dispersão de sementes, os mecanismos de dormência e escarificação, até estratégias de conservação e propagação in vitro. Destacam-se ainda as análises de lacunas na proteção das espécies e a relevância dos estudos de dinâmica populacional para a definição de áreas prioritárias de conservação. Os dados evidenciam a necessidade de abordagens integradas e multidisciplinares para a preservação desta importante família vegetal, com especial atenção aos países com elevada riqueza e endemismo.

Palavras-chave:
Cactaceae; germinação; conservação; dispersão de sementes; propagação in vitro; análise de lacunas.

 


 

1. Introdução

A família Cactaceae apresenta adaptações únicas que permitem a sobrevivência em ambientes de escassez hídrica, predominantemente nas regiões áridas e semiáridas das Américas. Excetuando o gênero Rhipsalis, que possui distribuição mais ampla, os cactos desenvolvem estruturas suculentas e utilizam o metabolismo ácido das Crassuláceas (CAM) para otimizar a fotossíntese sob condições adversas. Este trabalho visa integrar e discutir os conhecimentos atuais acerca da germinação, diversidade e estratégias de conservação desses organismos.

 


 

2. Distribuição Geográfica e Adaptações

2.1 Distribuição

Domínio Americano:
A Cactaceae é majoritariamente encontrada nas Américas, adaptando-se a ambientes áridos e semiáridos, com exceção do gênero Rhipsalis.

2.2 Adaptações à Seca

  • Armazenamento de Água:
    Estruturas suculentas que possibilitam o acúmulo de água.
  • Fotossíntese CAM:
    Permite a realização da fotossíntese com menor perda de água, otimizando a eficiência hídrica.
    “The Cactaceae are one of the most interesting due to their extensive set of peculiar adaptations to water scarcity, which allow them to be perennial and evergreen despite the sometimes extreme dry conditions of their environment.”

 


 

3. Estrutura e Variação das Sementes

3.1 Estrutura Típica

  • Componentes:
    • Testa (camada protetora externa)
    • Embrião
    • Endosperma (tecido nutritivo)
    • Perisperma (em grupos mais primitivos)
    • Arilo (em Opuntioideae)
    • Funículo e Hilo
    • Em algumas espécies, podem ocorrer carúncula ou estrofíolo/rafe.

3.2 Variação Interespecífica e Número de Sementes

  • Diversidade Morfológica:
    As sementes exibem variações em forma, tamanho, estrutura e cor.
  • Quantidade por Fruto:
    Varia de poucas (1–5) a milhares de sementes, dependendo da espécie e das condições ambientais.
    “The number of seeds produced by a single fruit can be enormous, sometimes more than 1000 seeds per fruit (Pilosocereus chrysacanthus; pers. obs.), or just a few (1 to 5 seeds per fruit in Epithelantha and Pereskia aculeata).”

 


 

4. Mecanismos de Dispersão de Sementes

4.1 Vetores de Dispersão

  • Anemocoria (vento):
    Dispersão facilitada por sementes leves.
  • Zoocoria (animais):
    Sementes dispersas via ingestão e excreção.
  • Hidrocoria (água):
    Sementes com características de flutuação para dispersão aquática.
    “Cactus seeds are mainly transported in two ways by different vectors: wind and animals. Water should be considered as a third vector of seed dispersal.”

 


 

5. Dormência e Escarificação em Sementes

5.1 Dormência

  • Definição e Tipos:
    A dormência é um estado em que a semente não germina mesmo sob condições favoráveis, funcionando como estratégia de sobrevivência.
    • Inata (primária): Impede a germinação imediatamente após a dispersão.
    • Imposta: Regulada por fatores ambientais (luz, temperatura).
    • Induzida (secundária): Persistência da dormência mesmo em condições favoráveis.
  • “For cactus seeds, innate and enforced dormancy have been found.”

5.2 Papel da Ingestão por Animais e Escarificação

  • Mecanismo:
    A passagem pelo trato digestivo promove a escarificação, removendo inibidores ou amolecendo a testa, facilitando a germinação.
    “A ingestão por animais pode escarificar a testa da semente, removendo inibidores ou amolecendo-a, facilitando a germinação após a passagem pelo trato digestivo.”

 


 

6. Microambientes Favoráveis: “Plantas-Babás” e “Rochas-Babás”

  • Função Protetora:
    Esses elementos naturais oferecem sombra, umidade adicional e proteção contra radiação excessiva, contribuindo para a sobrevivência das mudas nos estágios iniciais de crescimento.
    “Plantas ou rochas-babás fornecem sombra, umidade extra e proteção contra radiação excessiva, que são essenciais para a sobrevivência de mudas nos estágios iniciais de crescimento, reduzindo o estresse ambiental.”

 


 

7. Diversidade e Influência dos Fatores Ambientais

  • Influência Ambiental:
    A diversidade dos cactos é determinada não apenas por temperatura e precipitação, mas também por heterogeneidade do habitat e interações ecológicas complexas.
  • Importância dos Estudos Regionais:
    Países como México, Argentina, Peru e Bolívia se destacam pela riqueza e endemismo, definindo prioridades para a conservação.
    “México, Argentina, Peru e Bolívia são os países com maior riqueza e endemismo. Isso indica que esses países têm maior prioridade para esforços de conservação, devido ao número elevado de espécies exclusivas.”

 


 

8. Análise de Lacunas (Gap Analysis) em Conservação

  • Objetivos:
    • Avaliar a representatividade das espécies em áreas protegidas.
    • Quantificar a porcentagem de área protegida para cada espécie.
    • Identificar áreas prioritárias para futuras ações de conservação.
  • “A análise de lacunas identifica espécies que não estão adequadamente representadas em áreas protegidas, quantificando a porcentagem da área de cada espécie que está sob proteção, e auxiliando na definição de áreas prioritárias para conservação.”

 

9. Conservação e Ameaças aos Cactos

9.1 Ameaças Identificadas

  • Destruição e fragmentação de habitat.
  • Coleta ilegal para o comércio ornamental.
  • Impactos das alterações climáticas.

9.2 Estratégias de Conservação

  • Avaliação do Estado de Conservação:
    Inventários regionais e estudos biológicos para monitoramento.
  • Intervenções:
    Programas educacionais, controle do comércio ilegal e expansão de áreas protegidas.
  • Papel Institucional:
    A colaboração entre jardins botânicos e instituições científicas é crucial, especialmente por meio de técnicas de propagação in vitro e conservação ex situ.
    “It also confirms the need to assess the representation of large taxonomic groups, including major groups of plants, in protected areas and to generate more data to be able to do so. Only then will it be possible to measure the efficacy of the PA network in representing biodiversity.”

 


 

10. Propagação In Vitro

  • Importância:
    A propagação in vitro possibilita a multiplicação de espécies ameaçadas em ambiente controlado, contribuindo para a conservação ex situ.
  • Fatores Técnicos:
    O uso de reguladores de crescimento (auxinas e citocininas como NAA, TDZ, BA e cinetina) é fundamental na indução da proliferação de brotos e no enraizamento, embora desafios como a hiperhidricidade devam ser gerenciados.

 


 

11. Estudos de Dinâmica Populacional

  • Métodos:
    A utilização de matrizes de projeção populacional permite a simulação de cenários de crescimento e a avaliação dos fatores que influenciam a sobrevivência, o crescimento e a reprodução dos cactos.
  • Foco nos Adultos:
    Estudos apontam que a sobrevivência de indivíduos adultos é um fator determinante para o crescimento populacional, especialmente em espécies ameaçadas.

 


 

12. Conclusão

Os cactos representam um grupo de plantas com notáveis adaptações a ambientes adversos e desempenham um papel crucial nos ecossistemas áridos e semiáridos. A diversidade morfológica e as complexas interações ecológicas, juntamente com as ameaças crescentes decorrentes das atividades humanas, ressaltam a importância de esforços integrados de conservação. A análise de lacunas, os estudos de dinâmica populacional e as estratégias de propagação in vitro são ferramentas essenciais para garantir a preservação desses organismos. A colaboração entre países, instituições científicas e comunidades locais é imperativa para a implementação de medidas eficazes de conservação, sobretudo nas regiões com maior riqueza e endemismo.


 

Bibliografia usada:

CONTRERAS, C.; VALVERDE, T. Evaluation of the conservation status of a rare cactus (Mammillaria crucigera) through the analysis of its population dynamics. Journal of Arid Environments, v. 51, n. 1, p. 89–102, maio 2002. ‌

GIUSTI, P. et al. In vitro propagation of three endangered cactus species. Scientia Horticulturae, v. 95, n. 4, p. 319–332, nov. 2002.

GOETTSCH, B.; DURÁN, A. P.; GASTON, K. J. Global gap analysis of cactus species and priority sites for their conservation. Conservation Biology, v. 33, n. 2, p. 369–376, 21 nov. 2018. ‌

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ROJAS-ARÉCHIGA, M.; VÁZQUEZ-YANES, C. Cactus seed germination: a review. Journal of Arid Environments, v. 44, n. 1, p. 85–104, jan. 2000. ‌

SANTOS-DIAZ, M. DEL S.; SANTOS-DÍAZ, MA. L.; ALVARADO-RODRÍGUEZ, J. In Vitro Regeneration of The Endangered Cactus Turbincarpus Mombergeri Riha, A Hybrid of T. Laui x T. Pseudopectinatus. 28 jul. 2021.